Devagar é melhor!

Um amigo chegou empolgado como se fosse me comunicar a descoberta da vida em Marte (não que isso não seja novidade!) ou a receita mágica para transformar pão duro em ouro. O que contou, no entanto, me pareceu bem menos interessante: os japoneses haviam criado um computador capaz de processar 3 milhões de dados em 1 segundo. “Três milhões!”, repetia ele. Entusiasmado e com umas gotinhas de suor na testa.
Não que eu quisesse acabar com a alegria do sorridente entusiasta da revolução informática, mas tive que perguntar: e para que serve, filho de Deus, processar tantos dados ao mesmo tempo?
O indivíduo me olhou, admirado de que eu não me admirasse diante da estupenda velocidade. Me fitou com uma cara estranha, e ali eu pude perceber que, por trás de seu espanto pela minha falta de espanto, havia ainda um terceiro espanto: ele também não sabia qual era a utilidade daquela colossal capacidade do computador japonês. Simplesmente nunca tinha parado para pensar no assunto. E acho que ele não é o único. Quantos de nós não ficamos de queixo caído diante da suposta rapidez que a tecnologia propicia?
Temos a ilusão de que com supercomputadores que fazem em segundos o que há anos fazíamos em dias, com aviões que percorrem em horas o que há séculos percorríamos em meses, o trabalho ficará mais rápido, a vida mais fácil, voltaremos para casa mais cedo e teremos mais tempo para brincar com o cachorro, escutar música, ver TV, ficar com a família... Mentira!
Do jeito que o mundo está organizado (lucro, lucro, lucro...), quanto mais rápida é a tecnologia, mais teremos de trabalhar! Suponhamos que há 50 anos um trabalhador levasse 8 horas para fazer uma cadeira e que hoje, com a tecnologia disponível, leve apenas 2 horas. O que acontece com este trabalhador:
a.) Trabalha só 2 horas por dia, entrega a cadeira e vai para casa feliz, brincar com os filhos;
b.) Trabalha o dia inteiro, assim como fazia antes, faz 4 cadeiras em vez de uma só e vai para casa exausto, no fim do dia.
Quem respondeu “b”, acertou. Se o mundo funciona como uma enorme empresa, que só pensa em grana, nenhum supercomputador ou qualquer outra invenção vai conseguir deixar nossa vida mais tranquila.
Se a nossa ambição é ganhar tempo, sugiro que tiremos o pé do acelerador e o ponhamos no freio. Deixemos de lado um pouco os computadores que processam 3 milhões de dados por segundo e comecemos a processar, em nossos cérebros, uma meia dúzia de questões realmente fundamentais: para que serve tanto computador, se a cada 4 segundos uma pessoa morre de fome no mundo? Para que serve tanta velocidade, se uma das principais causas de morte entre jovens, são os acidentes de trânsito? E para que tanta pressa, meu Deus, se não sabemos sequer para onde estamos indo?

Infelizmente, as perguntas fundamentais, assim como os verdadeiros valores da vida, são deixadas de lado quando o tal do "lucro" entra em cena...

É verdade Ana... A era da internet, em alguns aspectos, não é tão boa assim. É lamentável saber que alguns bons e velhos costumes estão se perdendo ao longo dos anos.

Se um dia eu tiver filhos, vou fazer de tudo para que eles tenham a infância que acredito que tivemos... Coisas básicas como sair procurando ovos de páscoa pelo quintal, levar (SIM) palmadas educativas, se lambuzar chupando manga, assistir Caverna do Dragão... Assim, pode ser que eu os ajude a tornarem-se adultos preparados para viver a vida, e não adultos que são programados, pois enquanto a programação está nos trilhos, blza, mas e quando há imprevistos e o indivíduo precisa achar o caminho das pedras?! rsrsrsrs

Ah, e não esqueça de deixar que eles tomem banho de chuva e andem de pés descalços no barro... rsrsrs

camila_gabriela escreveu:Ah, e não esqueça de deixar que eles tomem banho de chuva e andem de pés descalços no barro... rsrsrs

E melecar toda a roupa com pirulito e chocolate!!!!

Ana Durazzini escreveu:

camila_gabriela escreveu:Ah, e não esqueça de deixar que eles tomem banho de chuva e andem de pés descalços no barro... rsrsrs

E melecar toda a roupa com pirulito e chocolate!!!!

Eu já vejo essa mudança de costumes na infância na minha irmã que nasceu nove anos depois de mim, se compararmos as nossas infâncias eu afirmo com toda certeza que a minha foi muito mais feliz e passou bem mais devagar. Me lembro de ainda brincar de boneca com doze, treze anos, minha irmã com dez já quer usar maquiagem, esmalte e salto alto (sem falar que todo mês ela pede uma sandália Melissa, que nenhum de nós lá em casa dá! hahaha). Eu tento, tento mesmo, freiá-la a todo custo mas ás vezes ela ainda consegue ganhar a briga... A menina já quer até fazer um facebook, acreditam? Ela diz que todo mundo da sala dela já tem um... É uma pena que as crianças estejam indo por esse lado e deixando de serem crianças tão rápido.
Mas enfim, ótimo texto Ana!!

Obrigada, Brenda! E vê se ajuda sua irmã com o face dela, PO!!! kkkk